Antes de ouvir a grande notícia ele era como qualquer outra pessoa que se vê por aí. Deixava a pasta de dente aberta, esquecia o lugar onde colocou as chuteiras e não sabia a diferença entre a cor marron e chocolate do cabelo.
Mas um dia comum, desses que ninguém espera nada acontecer, surge a grande notícia. A descoberta acontece no momento da refeição. Ele almoça com a esposa e observa que ela fez o percurso entre a mesa de jantar e as panelas mais vezes que ele e desconfia. Para esclarecer a dúvida, observa atentamente as curvas da companheira e nota que ela está de fato diferente. Parece que a notícia está se confirmando. Decide lançar a baita pergunta: “você está grávida?”
Com a boca empanturrada de comida, ela olha nos olhos dele e responde: “Claro que não”. Ele não acredita na resposta. Compra um teste na farmácia e pede que ela o faça. O resultado confirma as suspeitas. Ela está grávida.
Depois que ouviu a grande notícia, ele não consegue mais ser o mesmo. Parece que até as digitais foram alteradas. No trabalho, poucos sabiam o seu nome, mas agora até a faxineira do andar de cima do prédio sabe que ele é pai. Está mais conversado, cumprimenta todos do trabalho e até sorri quando o chefe diz que o relatório precisa ser refeito pela quarta vez.
Em casa, a esposa está até desconfiando que o marido fora substituído por um cara idêntico. “Você já comeu hoje?”, “quer que eu traga alguma coisa do mercado”, “ Não precisa fazer isso, deixa que eu faço para você”, todas essas frases deixam a esposa atônita.
Mas a mudança se torna ainda mais profunda quando o grande dia do nascimento chega. As mãos estão molhadas de suor, a pele tão fria que até parece que o dia é de inverno e as pupilas dilatadas acabam assustando os parentes que foram acompanhar o parto. Diante da cena, a enfermeira fica dividida entre dar atenção à grávida ou ao pai do bebê. Opta pela mãe, afinal são duas vidas em jogo.
O médico sorri e diz que a criança já está a caminho. A notícia faz com que o coração bata ainda mais intensamente. Segura com uma das mãos a parede para impedir que o tremor das pernas o levem ao chão. Ouve o choro do bebê e naquele momento com os olhos cheios de lágrimas compreende um pouco do que é o amor de Deus, inexplicável.
:: Érica Fernandes
Erica.fernandes@redesuper
este texto foi tirado do site lagoinha.com